sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Rótulo Falso

O défice de ideias construtivas dos políticos em Portugal é preocupante, sobretudo nos dias que correm, devido aos desafios que todos os portugueses têm pela frente. Esta ausência de criatividade e sentido de orientação começa a revelar-se uma característica que se inicia com o 25 de Abril, e que entretanto, não foi tão evidente ao longo de todos esses anos, devido à euforia de um período alimentado pela ilusão de que o país permaneceria com a sua economia estável, e a má gestão das finanças públicas encontraria sempre uma espécie de compreensão de mãe na figura da União Europeia, cuja fragilidade, também revelou-se uma surpresa para muitos.
Os políticos fizeram reformas insustentáveis, com infra-estruturas colossais, cujos orçamentos, foram sucessivamente reprovados pelo Tribunal de Contas. Mudaram muitas características físicas e culturais do país, com recurso a uma retórica de pseudo-progresso, para criar uma imagem semelhante a alguns aspectos patentes em outros países, numa tentativa de igualar, o que não pode sequer ser comparado.
Portugal tem recursos que foram sucessivamente negligenciados: posição geográfica comercialmente estratégica, com uma vasta costa marítima e arquipélagos bem localizados; clima ameno ao longo de muitos meses; vastas zonas de terreno fértil; mananciais de água de excelente qualidade; gastronomia diversificada e produtos de excelência reconhecida internacionalmente, como o azeite, o vinho e tantos outros. Devemos reconhecer que, estou a citar, apenas os aspectos que saltam à vista num primeiro vislumbre. Certamente, poderíamos enumerar muitos outros aspectos, tais como a qualidade dos têxteis fabricados no país; bons recursos humanos (sobretudo na área da pesquisa tecnológica e na medicina); grande potencial para implementar recursos energéticos renováveis, e por aí adiante… O facto é que, uma síntese como esta, é suficiente para reflectirmos quanto ao verdadeiro potencial do país, e em simultâneo, percebermos que Portugal não é um país tão pequeno como alguns gostam de dizer, quando referenciamos as suas potencialidades, e a sua história.
O actual governo, tem menor margem de manobra para contrariar essa tendência, sobretudo, por se encontrar afogado nas dívidas contraídas em tantos anos de irresponsabilidade. E apesar disso, vai dando sinais de iniciativa, com reformas que vão de encontro à real situação do país. Esta semana, no âmbito da concertação social, propôs uma nova regra que incide directamente no mercado de trabalho, e prevê que os desempregados, poderão aceitar uma oferta de trabalho e acumular parte do subsídio de desemprego com o salário (se este for inferior ao subsídio), num período de um ano. Uma medida que, no passado, outros governos, ignoraram completamente.
Todavia, não posso deixar de assinalar que, apesar de tantos assuntos pendentes e desafios que este governo e os cidadãos enfrentam, alguns sectores da administração pública continuam a perder tempo com questões paralelas sem nenhum sentido. Muitas delas, com slogans que invocam melhorias nos mais diversos âmbitos, tais como na saúde pública. No entanto, os serviços de atendimento nas urgências dos novos e imponentes hospitais, continuam péssimos e mais caros.
Recentemente, o director geral da Saúde, ponderou restringir ainda mais os espaços onde é permitido fumar. Melhor dizendo: praticamente, em lugar nenhum. Por trás de uma suposta preocupação com a saúde pública, questiono-me sobre o seguinte: Onde fica o direito de escolha dos empresários e clientes? Espero bem, que não decidam proibir também o sal e a carne vermelha, ou instaurar a Lei seca… A meu ver, determinados hábitos não afectam terceiros, portanto, apenas quem os pratica (o que também é relativo), desde que haja respeito pelo próximo e regras que mantenham a harmonia dos diferentes costumes, em lugares específicos, para que todos possam escolher onde frequentar. Algo que, na minha opinião, está bem definido actualmente.

Termino por aqui. Vou ascender um cigarro (sem qualquer intenção de fazer apologia), antes que seja considerado um crime! E ficar a pensar: no bem que existe nas diferenças, e nos perigos da arbitrariedade, dos diferentes sistemas governativos ao longo da história, que tentaram sucessivamente rotular os cidadãos, e transformá-los numa massa operária alienada, sem direito a opinião, e impedida de viver com a dignidade de escolher o seu próprio destino.
Renato Córdoba
cronicas.up@gmail.com


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PAPEL EM BRANCO

Antes de escrever esta crónica, estive algum tempo a visualizar esta página em branco; era apenas um pedaço de papel sem qualquer encanto. Bastaria uma pequena frase, um poema ou um desenho de criança... Poderia vir a ser uma carta de amor para se transformar em algo muito especial. Mas era apenas uma página em branco. Contudo, tinha a sua importância. E eu conhecia o seu grande potencial; poderia se tornar o que eu desejasse, e estava prestes a ser a minha conexão com centenas, talvez milhares de pessoas, que ao passarem os olhos por ela, perceberiam logo a minha intenção.
            Assim também é a vida. Surgimos no mundo e temos toda a vida pela frente para "escrevermos" a nossa história. Começamos com o primeiro passo, as primeiras palavras, as primeiras descobertas, com as experiências dos nossos primeiros conselheiros.
            Mas a vida é muito maior, é um livro de recordações, que conjuga prosa e poesia, ilustrado com imagens de todos os tipos. Cada pessoa tem o seu. Alguns "livros" são grandes, e contam histórias extraordinárias e felizes. Os menores, apesar das poucas páginas escritas, são muitas vezes autênticos contos de fadas.
O importante é que a certo ponto das nossas vidas, possamos cada qual folhear as páginas das nossas vidas e sentirmo-nos orgulhosos; concluirmos que a vida foi uma grande aventura, e ainda sejam muitos os personagens envolvidos, cada livro tem um único autor, que é também o personagem principal.
            Todos os dias a vida nos revela uma nova página em branco ao amanhecer, uma oportunidade de criar uma história mais bonita, mais produtiva; uma verdadeira oportunidade de tornar os sonhos uma realidade.
           
Não deixe nenhuma página em branco para trás, porque enquanto houver vida, haverá sempre uma história por escrever.


Renato Córdoba
cronicas.up@gmail.com