sexta-feira, 27 de maio de 2011

Torre de Babel

Texto de Renato Córdoba
Quisera eu poder traduzir em palavras o som do silêncio doloroso que brota nos olhares que já não encontram esperança em verdadeiras soluções e perdem-se novamente em anseios de que um milagre venha a acontecer. O vento frio não encontra fronteira na pele que reveste os corpos pálidos dos transeuntes moribundos de espírito, que sofrem com as gélidas previsões que lhes trespassam o coração contraído de dor e desânimo, deixando para trás seus corpos estigmatizados a sangrar sobre os sonhos e desejos de um ser humano mais humano do que hoje o sentem que são. Muitos caminham como vultos numa multidão anónima; silhuetas de uma sociedade moderna, desejosos de serem notados mais uma vez; de serem ouvidos. Todos querem ser amados, mas já não sabem como viver no amor; o amor estrutural, que perdura, que cria, que faz o que é sensato, que educa, que motiva… Que revela a felicidade. O que é feito da honra entre os homens – da amizade sem o termo de favores – da elegância no comportamento – do civismo – da criatividade em função do beneficio comum? 
 De tempos em tempos a “Torre de Babel” desmorona novamente sobre todos os homens e mulheres que lutam por um mundo mais seguro e igualitário. A maldição que confunde a humanidade e a divide perdura e portanto, é imperativo que não continuemos a cometer os mesmos erros, pois o segredo não está fundamentalmente na edificação estrutural da sociedade, que se realiza com organização e trabalho, mas está antes de qualquer acção, definida na comunicação que depende do esforço de todos para que possamos compreender uns aos outros e abdicarmos dos paradigmas e preconceitos que evidenciam e geralmente distorcem as nossas diferenças.

Ponte de Lima


"Ponte de Lima - Terra Rica da Humanidade"

Texto de Isabel Novais Machado
          Maria vivia os seus 24 anos, quando procurava desenfreadamente um emprego na área em que se havia profissionalizado. Inscrevera-se para um programa de estágios internacionais, acabando por receber como resposta final a sua não colocação em território desconhecido e incerto, que tanto desejara. Foi ao acordar dois dias depois do desmoronar da continuidade do seu sonho internacional, que recebeu o telefonema de uma colega. Foi-lhe indicada uma vaga para emprego, numa empresa de publicidade em Ponte de Lima.
            Existem agências de publicidade em Ponte de Lima? Foi o seu primeiro e inevitável pensamento. Um pouco desconfiada, apressou-se a pesquisar os contactos da empresa, acabando por agendar uma entrevista para o próprio dia.
            A empresa era ampla, de cores fortes e com um portfolio variado, que se opunha a uma fraca concorrência. Após um primeiro impacto e apreciação mutuamente positiva, Maria foi admitida à experiência por uns dias; dias estes que se foram prolongando por semanas, meses e anos.
            Mas nada indicaria tamanha extensão cronológica, visto que foi assombrada pela fatalidade de um pensamento assustador no primeiro dia que calçou os sapatos da vila: “Isto é uma vila fantasma, não aguento aqui nem uma semana” - pensou precipitadamente.
            A vila era-lhe familiar desde que se lembra de correr em volta de floreiras de casas senhoriais, quando brincava às escondidas com primos e primos e primos dos primos dos primos.
            Lá tivera muitos almoços, jantares, festas e galas, não esquecendo as altas expectativas anualmente correspondidas, sempre que o seu cérebro galanteava as Feiras Novas. Uma sequência de cinco dias, que correspondiam a um multiplicar desmedido da sua rede social, estendendo-se por Lisboa, Porto, Braga, Viana do Castelo e afins.
            Inicialmente resumia-se a viras, carrinhos de choque e toda uma panóplia de diversões e luzes e sons inquietantes, pães com chouriço e espectáculos pontuais, de danças cromáticas que transformavam os céus da sua inocência, numa experiência desigual.
            Com o passar dos anos, foi-se tornando em viras e mais viras e mais viras e cantares ao desafio, encontros e desencontros, vinho à pressão, danças rejuvenescedoras e nasceres do dia.
            Para si, Ponte de Lima, sempre fora sinónimo de vida, alegria e agitação.
            Mas agora, ainda no primeiro quarto de século da sua existência, foi ali parar por motivos profissionais, em meados de Abril. Não era Natal, nem era Verão, nem eram as Feiras Novas.
            O sol rasgava o céu azul ainda tímido e aquecia-lhe o rosto, coberto por uns grandes óculos de sol defensivos, que lhe protegiam o olhar explorador.
            Tinha duas horas de almoço. Foi assim que aprendeu a respeitar a relatividade do tempo.
            Dirigia-se ao centro histórico num misto de saudade enfatizada, com uma curiosidade virgem. Passou a estátua da célebre D. Teresa, que estendia o braço segurando imponente o foral que fizera daquele lugar uma vila, sendo poucos passos depois, o momento em que Maria entra num eco de solidão, que se aprofundou a cada passo, a cada rua, a cada olhar em volta, a cada percepção de que aquele não era o sítio que julgara conhecer.
            Foi aqui que pensou em fugir, que sentiu que não aguentaria em si aquele ritmo inerte.
            Com vida para além de si, nas ruas via apenas alguns pássaros alcoviteiros, que se escondiam de janela em janela, como quem espreita de soslaio a foragida.    Nas ruas de dois metros de largura que percorria, não se cruzava com vivalma, apenas com pedras ancestrais, que contavam num silêncio gélido, as pessoas que por ali haviam passado.
            Ourivesarias repetiam-se, todas diferentes e todas iguais, sorriam para as ruas com o ouro que as preenchia, enquanto as portas cerravam os seus dentes e braços, igualmente desconfiadas.
            Na sequência destas ruas, surgiam outras perpendiculares e oblíquas, igualmente vagas, igualmente frias, ainda mais estreitas e sombrias.
            Por momentos, o seu batimento cardíaco é retomado ao visualizar um conjunto de objectos e mercadorias num passeio. Haveria com certeza vida por trás de tudo aquilo. Retomou o passo firme, mas rápido constatou: não era mais que um oásis. Era uma drogaria. Deserta, cerrada, parada no espaço e no tempo. Atulhada de produtos do século XX, alguns colocados no exterior, expostos, indefesos, abandonados, ingénuos.
            Na porta tinha um horário que informava encerrado para almoço. Das 12h30 às 14h30. Só então Maria percebeu a aridez das ruas. Estava tudo encerrado para almoço. Que imensa letargia do comércio tradicional.
            Desconcertada, ouve os gritos de adoração ao tempo, arriscados pelos sinos da igreja matriz. As badaladas transportavam mais que som, mais que vida, traziam também um odor intrigante, diferente, convidativo, quente, salgado... Começava a tornar-se irresistível a cada passo, acabando por indicar como uma seta olfactiva, a porta entreaberta de uma torre milenar. Era um restaurante. Aberto. Vivo. Com gente. Com calor, cheiros, diárias, cadeiras, mesas e toalhas. Os seus pensamentos foram assim consolados. Havia vida na vila.
            Aqui conheceu a Dona Rosinha e a Dona Filomena. Cunhadas há mais de 20 anos, movimentavam-se na cozinha aberta, como quem dançava uma valsa gastronómica, com alguns passos de bailado russo desinfectante.
            As notícias políticas e curiosas saltavam de imagem em imagem, acabando por surpreender a mesa, primeiro com uma sopa de indescritível paladar, seguida logo depois de um conjunto de travessas de barro regionais, que vestiam agora as roupas daquele odor mágico e atraente sentido lá fora. Era vitela assada em forno de lenha, era arroz branco, era legumes frescos, era batatas caseiras e rosadas, era sorrisos e vozes estridentes e risadinhas frenéticas a intercalar cantares populares.
Pessoas entravam e saíam. Uns de fato de gosto duvidoso a falarem atabalhoadamente ao telefone, outros de bengala e chapéu, com mãos grossas e calejadas que cumprimentavam todos os presentes com aparente resmunguice. Era o Sr. Joaquim e a sua bengala feminina vital, a Dona Manuela. Andavam desencontrados pelas suas corcundas díspares, vestindo ambos as mesmas rugas cinzentas, que contavam a história de uma limitação geográfica forçada pela lavoura, que os havia domesticado muito antes de terem aprendido a sonhar. Mas por baixo dos sobrolhos reprimidos, pressentia-se a honra, a dignidade, o empenho e o orgulho pela partilha de uma integridade sempre presente e cada vez mais escassa numa sociedade de relógios e inovações.
            Mais complacente, Maria abandonou a torre com o sabor quente do café nos lábios. As pessoas pareciam sair das tocas e encher as ruas com passos bordados. As pessoas olhavam nos olhos umas das outras, paravam umas para cumprimentar outras, enquanto outras acenavam mesmo não conhecendo.
            Um novo espírito inundava a vila. A proximidade e o humanismo tornavam-se marcos impressionantes ao virar de cada esquina. As pedras que ladeavam as ruas permaneciam frias e passadas, mas a calçada aquecia-se com passos inconstantes e surpreendentes.
            Aquela não era afinal uma vila fantasma. Com o tempo percebera-o.
            Ao fim de uns meses, estacionava o carro ensonada e mesmo antes de acordar o seu animal criativo, já lhe acenara sorridente o Sr. Manuel da mercearia, o Sr. João do talho, o Sr. André do Restaurante, a Dona Alzira do café e o Sr. Sérgio do Quiosque. Foi numa dessas manhãs, de acenos quentes e sorrisos acolhedores, que ficou subitamente claro o encanto daquela vila, daquele pedaço de terra histórica e intimista, daquelas coordenadas tão próximas da sua residência e tão distantes da sua realidade até então. Uma grande aldeia, onde tudo é família, tudo é estória, tudo é sabido, nada é esquecido e tudo é falado.
            Uma vila de encantar que espelha vivências. Em torres, igrejas e estátuas. Em pessoas rudes, acanhadas e também em línguas desdobradas. Em cães estendidos ao sol e invasões de turistas que se multiplicam com a ascendência da época. Na Feira do Cavalo, na Feira do Vinho Verde, na Feira da Caça, na Feira do Artesanato, na Vaca das Cordas, nas Feiras Novas e na sempre surpreendente e absurda Feira Quinzenal em que o povo engole a vila.
            É o rio Lima e os kayaks coloridos, os montes verdes e as bicicletas na eco via a ir com a corrente.
            É o Sr. Manuel, o Sr. João, o Sr. André, o Sr. Sérgio, o Sr. Joaquim e a Dona Alzira, a Dona Rosinha, a Dona Filomena e a Dona Luísa.
            É o chafariz, as torres, as igrejas e a ponte medieval.
            É a vila. É a vila viva de Ponte de Lima. É terra rica da humanidade.


Sempre só

Texto de Ana Nogueira

As paredes obsoletas, os candeeiros semi-cerrados, a modéstia da mentira, o oculto da imaginação, a sensibilidade do homem vulgar, a chamada para o infinito, a devastação pessoal, o medo da solidão, o tacto quando deixa se ser tacto… Uma sala sublime com candelabros de cristal, o chão feito de vidro, as damas com os seus sapatos mortíferos para este chão, os cavalheiros com suas bengalas emproadas, fazendo piadas vulgares e as meninas com seus corpetes apertados prestes a sufocar, riem… assim foi o caminho de quem nos antecedeu, o nosso é similar. A sala moderna, os candeeiros de um novo decorador de interiores que se casou com uma menina cujo pai é partidário, decide dar-lhe fama, para o elitismo não morrer… o chão continua sensível, pois os sapatos tornaram-se perfuradoras que ao invés de encontrarem petróleo, encontram varizes nas belas pernas refeitas por um cirurgião cujo nome é a sua porta de segurança! As meninas cheiram o numerário, para em suas camas feitas de cerejeira, sonharem com armas mais caras e que exponham ainda mais o seu porte, comportam-se como objectos, como se simplesmente se tivessem deixado influenciar por estes… rodam sobre seus leitos pensando que os encontros no casino lhes vão trazer mais ornamentos para seus belos e esguios pescoços, que assim o são, pois os locais mais repugnantes, são os que escolhem para largar toda a gula que se torna desta forma em avareza! Riem de piadas ordinárias com seus peitos a brotarem pela blusa de seda que em suas mentes rogam para um botão se abrir, ou talvez dois, depois fingem constrangimento, satisfeitas com os olhares sujos que lhes são atribuídos!
         Quem é esta gente?
         Porquê merecem eles respirar o ar que eu respiro?
         Seria eu mais feliz se fosse desta forma? Talvez… mas, então, quem escreveria para vós?
         O sucesso inesperado apraz a sensibilidade alheia que é fraca com o poder da imagem que hoje ilumina os nossos dias com mentiras aprazíveis! Mintam, enganem-se, assim a vida é mais fácil, apesar de dessa forma eu não a intitular como sendo vida! Mais um cigarro termina, mais uma doença emerge.
         Fiquem doentes com a vossa ambição desmedida, com vossas futilidades, eu prefiro morrer aqui, num canto pelo qual ninguém consegue trespassar! Vós sois mais espertos, não sofreis porque não vedes o que eu nunca conseguirei ocultar! “Amanhã é um novo dia”… para mim é só mais uma data.
         Espero que a esperança me entre pela janela, que me leve para além da atmosfera, para aquele lugar recôndito, onde se esconde a essência do ser!
         Não tarda todos somos comida para vermes, mas mesmo sabendo da única certeza universal, prefereis viver vossos jogos. Eu, terei que fazer o mesmo, porque até o meu amor por vós já foi corrompido! Maldita lógica humana! Deixo-vos a minha praga! Espero que todos amem alguém que não os ama, que os sonhos sejam cada vez mais constantes, e que ninguém passe incólume à tristeza universal, pois todos sereis punidos pela vossa douta ignorância! Sois desprezíveis! Odeio a vossa serenidade perante a mortificação social! Aliás, usais este termo para vos desculpares, sóis asquerosos! Porque não admitíeis o amor? Porque viveis na incerteza e na destreza humana? Mas, não serei eu a julgar-vos, vós acabareis por fazê-lo, quando em vossas paredes só conseguires ver escrito: sempre só!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Política e o Futebol

Crónica de Renato Córdoba
cronicas.up@gmail.com

     A poucas semanas das eleições legislativas, temos constatado através da comunicação social as sucessivas sondagens a revelar que a esmagadora maioria do eleitorado está dividida entre o PS e o PSD, embora haja um crescente percentual de eleitores que ouvem pela primeira com atenção as propostas do CDS-PP. Este último caso é evidentemente um reflexo do trabalho desenvolvido nos últimos anos na Assembleia da República, protagonizado essencialmente pelo Deputado Paulo Portas, que tem-se destacado ainda mais desde que começaram os debates políticos de pré-campanha eleitoral, cujo discurso se diferencia pela perspicácia em que apresenta propostas populistas e ao mesmo tempo coerentes e executáveis, tanto no que diz respeito à governação, bem como no meio que envolve os partidos. Contudo, grandes transformações levam o seu tempo, geralmente longo, portanto, voltemos ao primeiro caso das sondagens sem minimizar a importância e o mérito desse último (visto que seja qual for o resultado, o CDS-PP terá um papel de destaque).
      Acredito na vitória do PSD… Melhor dizendo, acho-a necessária! E por uma simples razão (embora pudesse citar muitas outras): O país necessita de transição política.    O PS teve a sua oportunidade durante seis anos de governação, quando obviamente houveram algumas conquistas, pois seria inadmissível que o governo nada tivesse feito em prol do país durante tanto tempo e com tanto dinheiro da União Europeia e dos contribuintes para gastar como bem entendeu. Mas no plano geral falhou, visto que não teve capacidade para dar resposta à crise financeira que devastou a economia nacional, com consequências nefastas que levaram ao pedido de ajuda internacional já evidenciadas pelas taxas de juros da dívida externa, a decadência dos sectores de produtividade e o elevado e crescente índice de desemprego; e por fim, não foi capaz de evitar uma crise política. Portanto, para elucidar os indecisos, deixo a minha opinião de uma forma muito simples… Portugal é um país cujo desporto nacional é o futebol, onde os adeptos quase sempre tem um palpite formado para o seu clube em função da época, dos jogadores e da equipa técnica, como se cada um fosse um pouco de treinador, árbitro e jogador (o que acho sempre divertido), mas uma coisa todos têm em comum quando constatam que o seu clube está a perder: A necessidade de mudança.
      O País está a perder, isto é um facto. Mas está no “jogo”, e permanecerá sempre. Mas a forma como iremos enfrentar a próxima época é decisiva, cujas conquistas realizadas estão em causa, tanto no plano financeiro, como na saúde, na educação e no trabalho. Sei que faço aqui uma comparação simples diante da complexa situação actual do país, mas não faltam economistas e comentadores políticos com opiniões bem formadas e palavras caras para esclarecer minuciosamente o assunto. Entretanto, bem analisadas as coisas, quando oiço dizerem que os responsáveis por essa tragédia devem permanecer no governo, como se por magia tivessem subitamente se transformado nos salvadores da Pátria, concluo: Discurso mais barato não há!
      O Dr. Pedro Passos Coelho demonstrou que não é um homem do espectáculo, talvez por isso, não tenha alcançado nas sondagem até agora uma maioria absoluta, o que é curioso, porque governar e seduzir a população com discursos emotivos, com ou sem demagogia, são coisas distintas. Aparentemente não se vence eleições apenas com propostas concretas de governo, porque o povo também gosta de «música», e nisto o seu principal opositor se destaca. Mas por enquanto, nada está decidido!         
      Creio que o número de abstenções nas próximas eleições será menor do que constatado nos últimos anos. O país inteiro manterá a respiração em suspenso no dia 05 de Junho. Espero sinceramente que os cidadãos sejam felizes nas suas escolhas. E que nesta nova fase os políticos sejam responsáveis nas suas funções e responsabilizados (em juízo) pelos seus actos; que falem sempre a verdade ao país (o que até aqui aparentemente não tem acontecido) e governem com sabedoria e justiça.
            As maiores virtudes de um grande governante não provêm da sua ideologia política, porque elas são frutos do carácter de um verdadeiro líder.

Afinal quem pediu a intervenção

Crónica de António Fernandes Ferreira

             Ao iniciar a leitura deste texto certamente que o leitor e o cidadão em geral, terá a curiosidade de saber quais as intenções que estão subjacentes a tal designação… É evidente que por tal razão, terei de explanar objectivamente o sentido das palavras que vou escrever, para que, após a leitura, seja possível dar uma ideia concreta da amplitude real da tragédia em que o país está envolvido.
1)         Hábil em manobrar as palavras o 1º Ministro Sócrates desdiz aquilo que disse atribuindo as desculpas exclusivamente à “crise internacional”, mas esquecendo que ele e a governação socialista está no poder há longo espaço de tempo (6 anos) olvidando que, quando foi eleito, a despesa pública e a dívida externa representava 30% do PIB e actualmente ultrapassa os 100%... Por tal razão ele infeliz e preocupado, não tem a menor culpa na crise que dramaticamente, “levou o país à bancarrota !”;
2)         Objectivamente não foi ele que pediu a intervenção da Troika mas sim a desgraçada oposição, que o digam Manuela Ferreira Leite, Medina Carreira ou o ex-socialista António Barreto… A estes podemos acrescentar todas as instituições financeiras da Comunidade Europeia, e ainda dezenas de Economistas quer nacionais como internacionais;
3)         Focados os pontos 1 e 2 chega-se facilmente à conclusão que estamos perante o “Messias Salvador da Pátria” possuidor do exclusivo da inteligência, que fazendo dos Portugueses uma cambada de estúpidos, vai deturpando a seu Bel-prazer a realidade insofismável que, com enorme malabarismo qual ilusionista, vai tirando “coelhos da cartola” que transforma o caos em oásis;
4)         É evidente que existem culpados na triste situação que o país atravessa daí e chamando as coisas pelo próprio nome, vou com total frontalidade escrever alguns nomes que de imediato me ocorrem:
a)         O ex-presidente Jorge Sampaio
b)         O ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio
c)         E como é óbvio o conhecido cidadão José Sócrates
Por ordem cronológica explicitarei as razões porque faço por minha total responsabilidade, tais acusações… No primeiro caso como é do conhecimento de todos, Jorge Sampaio demitiu Santana Lopes de 1º ministro quando tinha sido eleito democraticamente, não lhe dando tempo sequer para respirar o cargo!, …daí a eleição do actual 1º ministro, com os resultados  que estão à vista… Não esqueço o facto de o ex-presidente da República ter anteriormente exercido a cargo de Secretário Geral do Partido Socialista.
            No segundo caso responsabilizo o ex-governador de Banco de Portugal pois no exercício do cargo, escondeu sempre a realidade financeira do país, pois tendo como obrigação a eficaz fiscalização das instituições Bancárias, não vislumbrou por ineficácia, as barbaridades cometidas no BCP e BPN das quais resultou para o país muitos milhões de prejuízo!... Por mera casualidade este cidadão foi também Secretário Geral do Partido Socialista (você leitor tire conclusões)...
            Por último (e porque os últimos são os primeiros) deixo um lugar especial para o Engº Sócrates!... Para este e pelo bem que fez ao país, proponho seja erguida uma estátua de corpo inteiro bem merecida “pela verdade com que sempre falou!” Porque eu, não sou rancoroso dou-lhe desde já a minha absolvição, pois tenho sérias dúvidas, se não será possuidor de defeito congénito, que o leva a viver em país mágico que não é o meu, distribuindo ilusões com elevado preço.
            Para si estimado leitor sugiro, faça um exame de consciência e vote à esquerda ou à direita MAS VOTE! Lembre que somente será governo quem você quiser e que votar é UM DEVER CÍVICO. Faça-o porém de forma, a que futuramente não chore sobre o leite derramado… Face a este texto não foi José Sócrates que pediu a intervenção da Troika, nem ele que faz a comunicação ao país anunciando esse pedido! O que se pode chamar a isto?... O leitor decida.

A Minha Mensagem

Crónica de Ana Nogueira

          É óbvio que o que nos diferencia do Brasil, é maioritariamente a densidade populacional e territorial, mas existe algo que não nos afasta assim tanto do povo brasileiro, e não estou a falar da língua, mas sim da corrupção!
            A criminalidade pode ser maior, mas também assim é, o número de habitantes! A realidade parece estar ausente na ética humana e devo concluir com muita pena minha que o povo português se deixou acomodar a um sistema político corrupto e infame! Oiço as pessoas a conversarem na rua sobre política, penso “FINAL-MENTE”, mas tivemos que chegar a situações extremas para o povo retirar “o Véu de Maya” e entender que a política não tem que ser falada apenas pelos governantes, mas sim pelos que os fazem governar! Assim, culpabilizo maioritariamente o povo português pela nossa situação actual! Pois, apesar do “massacre” humano do qual todos somos vítimas, ainda oiço pessoas a dizerem que vão apoiar x e y por questões partidárias! Não se pode, jamais ser-se fiel a um partido que não governa segundo aquilo que o fundamenta, segundo as leis da democracia! Se somos realmente apologistas da república, temos que fazer mais e melhor! Primariamente, todos temos que votar, para isso é que existe o livre arbítrio, já para não falar que o sufrágio feminino foi adquirido somente e pela 1ªvez na Nova Zelândia em 1893! A partir de então temos um direito que é nosso e um dever cívico, pois votar é um dever cívico, por isso minhas Senhoras, se as nossas antecessoras lutaram para que hoje tenhamos esse direito, vamos homenageá-las de uma forma bastante simples, vamos eleger alguém, a abstenção é um surto de burrice!
            E por falar em burrice, devo confessar que muitos dos políticos neste país não passam de meros entertainers! Isso não é o que precisamos, pois, então, estão na profissão errada!! Não podemos pensar votar em alguém que fez do nosso país, e dos portugueses uns coitadinhos que neste momento não têm outra hipótese senão serem meros vassalos da soberana Troika! Um belo país, representado outrora por um belo povo que em 1415 começou com a conquista de Ceuta na África, prolongou-se com as descobertas da Madeira, dos Açores, da Costa oeste Africana, dominou as águas do Atlântico Sul, descobriu a Índia, o Brasil, e continuou colonizando nas Molucas, na China e no Japão! Quem foi este povo? Não reconheço este povo lutador em nós....
            É triste admitir que apesar da humilhação que o último governo nos está a fazer passar, ainda considerais pô-los de volta no poleiro, por isso é que eles brincam connosco, pois sabem quem somos hoje, não quem fomos ontem e ontem fomos lutadores, hoje somos comodistas! O que mais oiço é: “ Sim, vou votar no Sócrates, os outros não têm o mesmo poder de argumentação...” Que poder de argumentação? Da primeira vez, sim foi convincente, mas agora já é demais! BASTA! O homem é capaz de argumentar contra si próprio! Não pensem que estas pessoas ajustam as suas contas quando tiverem que enfrentar o divino, pois até as moedas para o barqueiro são retiradas dos nossos bolsos!
            Peço-vos pelo amor telúrico que nos une, considerai o futuro dos vossos e acreditem que um dia voltaremos a descobrir, pelo menos a confiança uns nos outros... E se tiveres dúvidas pensai no que um orgulhoso poeta português um dia disse, “...tudo vale a pena, se a alma não é pequena...”*

*Fernando Pessoa, em “ Mensagem”.

Quem Governa?

Artigo de: Pedro Lomba - Jurista (Extraído do Jornal O Público, 26/04/2011)

            Em 1933 a maioria dos alemães entregou o poder a um obscuro cabo austríaco que tinha escrito antes um livro paranóico e racista. Nos anos seguintes, essa mesma maioria foi arrastada, silente e inerme para a maior cegueira política e colectiva em que o povo esteve envolvido. Entre 1917 e 1989 os russos suportaram a purga, o crime e a miséria de um regime que se proclamava avançado e democrático. Durante a segunda metade do século XX milhões de pessoas nos países de leste também aguentaram com ilimitada paciência regimes corruptos e fantoches do comunismo soviético.
            Quando alguém lamenta a letargia e o alheamento dos portugueses, como agora se tem feito, fico a pensar se conhece a Historia da Europa, Isto para ficarmos apenas pela Europa. Por toda a parte o povo sempre escolheu e legitimou maus governos e maus governantes. Por toda a parte foi conivente com eles (pelo voto ou pelo silêncio), enganou-se ou deixou-se enganar, acordou demasiado tarde. A democracia chegou a más horas em muitos outros sítios e o discernimento popular nunca foi, e não continua a ser, a virtude mais bem distribuída do mundo.
            A crise e a extrema renitência de uma parte do eleitorado em condenar expeditamente Sócrates (que sem dúvida o merece) por nos ter atirado para a bancarrota ressuscitaram agora esse discurso auto-culpabilizador. No fundo, devemos perceber que, se somos vítimas, é em primeiro lugar de nós próprios, da nossa indolência e cobardia; e sobretudo da indolência e cobardia de outros que se recusam a ver aquilo que nós vemos. Nem sequer falta a citação literária – do inevitável Guerra Junqueiro – que por estes dias tem circulado como  uma praga: “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora (…)”.
            Como é que um país que tem a nossa tradição de emigração pode ser visto como “resignado e imbecilizado”, eis uma dúvida que naturalmente me assalta. Mas e essencial não é isso. O essencial é que, se queremos mesmo uma mudança de governo e a condenação dos responsáveis, a começar por Sócrates, não basta censurar metade do país por não conseguir ver o que nos parece evidente.
            Ciclicamente, somos presenteados com este exercício vagamente determinista que consiste, no epicentro a crise, em formular uma espécie de culpabilidade e responsabilidade colectiva, que também serve para isentar responsabilidades individuais. Dia 25 de Abril os ex-Presidentes, apesar das críticas que também fizeram aos partidos, censuraram a passividade dos cidadãos e uma sociedade civil adormecida.
            É compreensível que antigos políticos que procuraram o cargo mais pedagógico do regime, aproveitem discursos oficiais para fazer pedagogia. Mas os políticos que nos governam ou que têm aspirações a fazê-lo devem pensar que não estão a agir no mesmo mercado da pedagogia dos nossos senadores. Nestas eleições têm de se concentrar em explicar por que é que temos razões para creditar neles, ou para não ter medo deles. Não devem esperar em ganhar eleições em silêncio, como sempre se ganha eleições por cá, ocupando o vazio deixado por outros. Nem, em nome do espírito de consenso e unidade que actualmente reinam, ou apelando para uma união de todos, cometer o erro de pensar que nada do que eles dizem tem importância.

Petições on-line

Artigo de: Maria do Céu Nogueira (Extraído do Jornal Diário do Minho, 20/04/2011)

Vêm-se tornando um hábito. Aqueles que, com facilidade, navegam na internet e dominam todas as engrenagens tecnológicas, vêm-nas pondo em prática com largas vantagens, devo concordar. Apesar de info-excluída assumida, já tenho conseguido responder a algumas, quando concordo, obviamente.
Sobre a campanha para as legislativas, se fôssemos um povo civilizado e, sobretudo, com bom senso, não seria necessária a petição para que essa campanha se realize a mínimos custos.
Eu até vou mais longe. Campanhas para quê? Para vermos as mesmas caras, ouvirmos as mesmas promessas, constatarmos as andanças pelo país desses cavaleiros da triste figura lutando desesperadamente pelo seu tacho, única coisa que aprenderam a fazer (e mal, diga-se de passagem), porque nunca fizeram mais nada na vida. Se o perdem, engrossam a lista dos desempregados, já que trabalhar não é com eles.
Campanhas para quê? Conhece-mos os rostos, os jeitos e trejeitos, as acusações e os insultos, a falta de vergonha, de pudor, de ética de todos eles. Campanhas para quê, se sabemos que o poder está minado pela corrupção, pelo compadrio, pelos lobys, pelos interesses mesquinhos, pelas mentiras e falcatruas, pelas intrujices, sobretudo, pelo egoísmo dos que só pensam em defender a sua bolsa, sempre bem recheada de dinheiro, de favores, de ajudas para isto e para aquilo, defender os seus carros de luxo, as suas roupas de marca, os seus restaurantes de lagosta, os seus hotéis de luxo, sem jamais pensarem neste pobre e belo país. Campanhas para quê? A menos que, para engrossar o leque apresentado, juntem o sadismo de darem o golpe final.
Outra petição que me surgiu um dia deste diz respeito aos deputados europeus. Se não fosse tão triste, se não golpeasse a alma de quem a tem incólume, daria para rir. Segundo dizem por aí, os nossos deputados ao parlamento europeu, portugueses como nós e por nós pagos nas suas funções, não querem que os seus ordenados e demais mordomias sejam beliscados pela crise que todos os portugueses estão a sentir. Até, segundo ouvi, puseram o problema à votação! Eu fico varada! E então nós, por que não votamos também? Ia ser lindo!
Então estes senhores, por estarem ao serviço do país, como dizem, para servirem o país e o seu povo, como dizem, negam-se a colaborar nesse mesmo serviço de salvação nacional? Não acredito! Deve haver qualquer confusão! E negam-se a viajar em classe turística, quando sabem que é assim que viajamos todos, quando viajamos? Que são ou têm eles mais do que nós?
Eu, que nunca estive nem estarei na política, que graças a Deus, pertenço à classe útil e trabalhadora deste país, saberia resolver o problema da crise com quatro penadas. E não sou eu apenas a saber. Muitos mais o sabem. Até o governo e a oposição. Mas o que acontece é que, nós que sabemos, não podemos fazer nada. Eles que sabem e poderiam, nunca o farão. O que é, ou seria, então? Reduzir os ordenados de toda a classe política bem substancialmente, acabar com hotéis de luxo, restaurantes de lagosta, carros de luxo (um carrito qualquer que andasse, conduzido por eles e com a gasolina paga por eles) acabando assim com toda essa gente que anda à roda deles, que os serve como motoristas, assessores, secretários de assessores, assessores de assessores e secretários de secretários, chefes de gabinetes onde ninguém vai e onde se dormem boas sestas, telemóveis, muitos telemóveis, cada deputado chega a ter meia dúzia de telemóveis, não sei para quê, se só poderá falar num de cada vez.
E depois, para quê tanto deputado? Alguns nunca falaram, nunca disseram chus nem mus, ninguém os conhece. Vão para lá falar ao telefone, saem constantemente, parecem crianças da escola, ou então faltam. Por vezes, a AR tem meia dúzia de gatos pingados e só dois ou três é que falam. Ninguém dá conta disto?
Acho que até o PR poderia ajudar na crise, indo morar para uma casa boa, por certo. Poucas pessoas devem fazer ideia da despesa daquele palácio, todos os dias, durante anos. Enfim, reparem bem, (eis mais uma opinião de uma cidadã livre e com os impostos em dia), os excessos dos nossos políticos poderiam ter evitado a crise, o FMI e tudo o mais que por aí virá. E por hoje, tenho dito.

Votar é um dever cívico

Crónica de: António Fernandes Ferreira
 
       Aproxima-se a passos vertiginosos a data das eleições legislativas… Como eleitor consciente das minhas obrigações de cidadão de corpo inteiro, não tenho a menor hesitação em lhe apresentar “seis razões fundamentais” para cumprir esse dever cívico:
1) A sua participação é indispensável;
2) Os políticos passam, mas o país é eterno;
3) Não deixe em mãos estranhas a preciosa oportunidade que a democracia lhe concede;
4)Todos somos necessários para elevar Portugal;
5) Não se abstenha, vote à direita ou à esquerda, mas vote;
6) Vote com consciência.
       Estas são as seis razões com total e insofismável verdade para que o eleitor participe activamente na resolução dos graves problemas que afectam o país… Lembre que o governo somos todos nós, e que apenas conduzirá os assuntos do Estado quem a maioria dos cidadãos quiser.       Apresentadas seis razões para que o leitor não pratique a abstenção, é tempo de lhe lembrar “em quem não deve votar”… Por mim, não votarei em todo ou qualquer político que apresentado um programa eleitoral, não o cumpriu, traindo assim a confiança com  que os eleitores o elegeram. Pelas razões que passo a transcrever e às quais dediquei séria reflexão, vou relembrar algumas que ocorreram nesta legislatura:
A)… Prometeram a criação de 150 mil postos de trabalho, mas iniciamos 2011 com um novo recorde de 11,2% da população oficialmente desempregada;
B)… Não constava no programa  eleitoral  o aumento da idade da reforma.      
C)… Disseram que não haveria aumento de impostos, mas já estamos nos 23% do IVA, (antes do chumbo do PEC4);
D)… Não fizeram uma lei  contra a corrupção e o regabofe continua sem que os prevaricadores, sejam rigorosamente punidos. Não aprovaram o projecto de lei que limitava as remunerações dos gestores públicos;
E)... A população continua sem saber qual a dimensão exacta da despesa pública;
F)... Nenhuma medida eficaz foi apresentada para gerar riqueza e criar emprego.
       O rol de barbaridades tem tal extensão que seria fastidioso estar aqui a fazer uma descriminação detalhada. Por estas e muitas outras razões, não posso nem devo votar em quem escandalosamente abusou das minhas intenções ao colocar meu voto nas urnas.
       CONCLUSÃO: Seria pecado mortal não lembrar a si leitor, que somos o país que está na cauda da Europa, porque temos um governo que deixou o país a beira da falência, e agora surge novamente em campanha a deitar a culpa à oposição, como se a governação e todos os outros planos sucessivamente aprovados no parlamento não fosse da sua responsabilidade e determinantes para o estado desastroso que o país se encontra.
Lembre que votar é um dever cívico e que a sua participação é indispensável para mudar o rumo da Política em Portugal.

 

Ditadura da Maioria

Crónica de: Renato B. Córdoba

        A primeira vez que ouvi esta máxima: “A democracia é a ditadura da maioria”, fiquei a reflectir sobre o assunto por um longo período (isto é, evidentemente ainda o faço). O facto é que tive a oportunidade de fazer algumas observações, ainda que normalmente, este tipo de preceito sentencioso crie uma certa barreira para o desenvolvimento de ideias relacionadas. Neste caso, fi-lo para descobrir as causas e consequências para a sociedade, e por conseguinte, compreender como um sistema que – partindo de um pressuposto –, baseia-se na justiça e igualdade entre os cidadãos, continua a ser frágil e imensamente passivo à corrupção e à manipulação do seu próprio meio com fins pouco ou nada a favor dos cidadãos.
O filósofo Platão (séc. IV a.C.), chamou este tipo de anomalia no sistema democrático de “democracia desvirtuada”, com um caso em particular (e bastante visível nos dias de hoje), considerava um absurdo que homens com mais votos pudessem assumir cargos da mais alta importância, ainda que não fossem os mais preparados para essas funções. O que diria então se soubesse que actualmente, são atribuídos cargos públicos altamente remunerados por imposição do governo, sem o recurso a votos e algumas vezes, sem o devido mérito para o desempenho dessas funções?... Parecer-lhe-ia – julgo eu – no mínimo, um imenso paradoxo de um sistema que se intitula: Democrático.
A história tem outros exemplos não muito distantes, com anomalias que revelaram, inclusive, a face mais insana do ser humano, levada a cabo por regimes absolutistas que surgiram através da democracia. O maior exemplo é seguramente o Nazismo de Adolf Hitler, que venceu as eleições pelo Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores (1932). Tudo o que se desencadeou com a perseguição das minorias religiosas e raciais, aconteceram com o consentimento, e mesmo com a acção efectiva dos alemães. Isto remete-nos para uma questão: Quando a maior parte dos cidadãos perde a razão, é justo que as consequências se abatam contra todos os outros?...
Mas voltemo-nos para os nossos dias para conjecturar sobre semelhante efeito. E se a vitória de determinadas eleições, a que os políticos costumam intitular “vitória da democracia”, não for mais do que o resultado de uma propaganda eleitoral mentirosa, mas tão eficaz que cumpra o seu objectivo? Como encarar a democracia cujo resultado recai sobre toda uma nação, se for igual a falta de educação política ou a “amnésia” da maioria dos eleitores? E se o futuro de todos for guiado pelo medo da mudança, pela mediocridade, ou por pura falta de conhecimento. E se a maioria não estiver à altura de tamanha responsabilidade, e os seus votos não sejam mais do que um aval aos incompetentes e aos prevaricadores?
É evidente que a democracia tem um limite imposto pelo próprio sistema. E só existe na camada mais próxima dos cidadãos, porque as regras de um mundo globalizado são arbitrariamente geridas pelos interesses financeiros dos países mais ricos e suas poderosas instituições. Não há democracia nos mercados internacionais, visto que alguns países estão simplesmente vetados de exportar as suas matérias-primas. Não há democracia nas instituições financeiras. Outro exemplo patente é a Organização das Nações Unidas, onde apenas cinco países integram permanentemente o Conselho de Segurança (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França) com o direito de anular as decisões dos outros 10 países membros (com mandatos de dois anos) do mesmo conselho. Portanto, existem muitos exemplos, mas a verdade é que vivemos num regime semi-democrático, porque o futuro não depende somente das escolhas dos cidadãos, pois a coroa encontra-se no extracto mais elevado da sociedade, pousada sobre um regime autoritário e desumano, que dita as regras que todos os países devem seguir.
Todavia, a democracia permanece como a única ideologia capaz de tornar-se, algum dia, um sistema que configura um mundo mais justo e politicamente eficaz. Mas estamos longe deste objectivo. Enquanto não formos capazes de resolver os problemas mais próximos e que nos afectam directamente, com civismo, responsabilidade e um verdadeiro interesse pelas causas que afectam a todos, a democracia permanecerá estéril no sentido de ser e criar uma sociedade com governantes dignos e onde todos os cidadãos têm os mesmos direitos e a oportunidade de prosperar.