terça-feira, 6 de março de 2012

«Portugal no bom caminho»

O Prémio Nobel das Ciências Económicas, Robert Mundell, acredita que o euro está melhor do que nunca e que Portugal vai sair da crise económica sem que seja arrastado para o abismo pela Grécia. Na Universidade de Macau sugeriu ontem que a recuperação do sistema monetário internacional deve passar pela estabilização da taxa de câmbio, entre o dólar americano e a «moeda única», seguindo-se depois o yuan. Já quanto à RAEM – acrescentou o «pai do euro» – «é preciso apostar na diversificação económica».

«SE PORTUGAL passar por uma recessão económica, a situação orçamental vai piorar durante algum tempo; mas, no final, irá sair da crise e tudo ficará resolvido».
Esta afirmação do Prémio Nobel das Ciências Económicas de 1999 surgiu após a pergunta feita pel’O CLARIM, durante o encontro mantido ontem com a Imprensa, na Universidade de Macau (UM): «Como vê a situação de Portugal, apesar da austeridade que existe pelo país inteiro?».
O optimismo manifestado por Robert Mundell relacionou-se com o facto do Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, lhe ter recentemente dito que tem «mais confiança na recuperação económica de Portugal; mas nem tanto da Grécia, que não mantém os compromissos». Contudo, Robert Mundell não acredita que os gregos possam sair da zona euro e criar uma outra moeda.
Aliás, o também docente de economia da Universidade de Columbia, em Nova Iorque (EUA), sustentou que a situação da Grécia é diferente da que se vive em Portugal, e os mercados já aceitaram esse facto. «Há suficientes paredes de protecção, que previnem o aparecimento de alguma crise internacional de monta, por causa de um claro incumprimento grego».
No entender deste canadiano, a «moeda única» está melhor do que nunca: «O euro comemorou o décimo aniversário em 2009-10. No geral foi declarado um grande sucesso, devido ao facto do euro estar agora em melhor forma, do que quando começou. Desde 2002, tem ficado consistentemente acima do preço inicial de 1.18 dólar americano».
Robert Mundell, discursando perante uma plateia que lotou por completo o Centro Cultural da UM, estabeleceu uma interessante relação entre o momento actual da zona euro e a revolução social europeia. «Nas três décadas, entre 1960 e 1990, a Europa passou por uma profunda revolução social. A maior parte dos países desviou-se para a democracia social; implementou-se o Estado Social, com pensões, cuidados de saúde, subsídios de desemprego e estabilidade no trabalho», disse, durante o seminário «O Dilema da Dívida Europeia e o seu impacto na Ásia de Este e na Economia Mundial».
É, pois, um dado para si adquirido que a revolução social afectou, em certa medida, todos os países. Contudo, – segundo disse – as maiores mudanças verificaram-se no sul da Europa, mais concretamente, na Grécia, em Portugal, em Espanha e em Itália, ou seja, nos mesmos países que estão agora a braços com a crise da dívida soberana.
A solução que apresentou terá de passar pela estabilização das taxas de câmbio: «Com grandes oscilações do câmbio, entre o dólar americano e o euro, não é possível haver um verdadeiro sistema monetário internacional à escala global. A minha proposta de reforma passa pela estabilização do câmbio, entre o dólar e o euro; incluindo, depois, o yuan (chinês), assim que se tornar convertível».
Ainda segundo o Nobel da Economia: «Depois desta correcção das taxas cambiais, não há razão para que a libra esterlina [do Reino Unido] fique de fora do euro. A justificação até agora apresentada [para a não aderência] prende-se com as oscilações cambiais, entre o euro e o dólar».
 
PEDRO DANIEL OLIVEIRA - O Clarim • http://www.oclarim.com.mo

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