quinta-feira, 2 de junho de 2011

Queria...

Crónica de Maria Teixeira Gomes
Queria dar-te um sorriso e ele não sai... Esta nostalgia não se despega de mim... Eu raspo e raspo mas ela, qual cola resistente, não sai. Tenho saudades de mim... Da gargalhada fácil e límpida no tempo em que havia segredos e sonhos... Agora só saudade... E a dor de ver os dias escorrerem lentamente pela vidraça da minha vida... Tudo está tão baço... Tão cinzento... Tal como os nossos velhos descartados pela família e pela sociedade.
Queria dar-te um sorriso, mas apenas me sai um soluço... Pela impotência de nada poder fazer... E queria tanto gritar que a vida não é isto... E apertar a tua mão e dizer o quanto me ensinas meu velho, com a tua experiência de vida, que agora é todos os dias humilhada pela indiferença dos outros. E este lamento é apenas o desabafo de ver a vida passar... Lenta, triste... E revejo-me na tua desilusão, na tua triste solidão. No teu silêncio impotente. Da minha janela olho a rua e a janela do outro prédio onde uma velhinha pendura todos os dias quase religiosamente a gaiola do seu pássaro companheiro... A gaiola da sua vida afinal... De onde não podes sair e de onde ninguém te solta... E ao longe de mansinho, muito de mansinho sentem-se uns passos que vêm e que te farão finalmente tropeçar no infinito...
Queria tanto dar-te a mão e um abraço muito forte, porque todos os dias te acompanhei da minha janela... Afinal sem o saberes, não estavas só...

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